Encontra-se no Arquipélago açoriano o escritor Professor Doutor Anand Mahadevan, que está escrevendo um livro sobre duas linhagens Indianas em Toronto - uma emigrada dos Açores, a outra directamente da Índia para o Canadá. O investigador/escritor diz estar empolgado com este trabalho e ansioso por coabitar com os habitantes das ilhas no meio do Atlântico.
Aos dezassete anos Mahadevan mudou-se para os Estados Unidos com o intuito de completar os seus estudos, complementando-os na Europa e no Canada.
Desde 2002 que vive em Ananindeua e trabalha em Toronto. Lecciona Escrita de Ficção Avançada - Advanced Fiction Workshop (Etobicoke – Campus do Humber College, Universidade de Toronto e Universidade de Boston). Também analisa obras de ficção para a Tottenville Review.
A sua escrita foca e explora as experiencias dos imigrantes e o papel dos laços de sangue para a melhor compreensão da marginalização presente nas estruturas sociais.
A 14 de Setembro, Mahadevan passou pelos Biscoitos, onde conheceu o “Chico Maria” um descendente directo do vinho da Rota das Índias ou das Especiarias, e registou-o no seu Blogue num pequeno texto, o qual transcrevemos.
“14 Setembro de 2010, Biscoitos
Cheguei ontem á Ilha Terceira no Hellenic Wind. Este ferryboat grego foi posto em circulação pelo Governo Açoriano e viaja quase sempre vazio devido ao seu tamanho gigantesco. Fico feliz por ter o meu patch de escopolamina, uma vez que o barco balança compulsivamente por entre as ondas no mar aberto. O pobre homem sentado ao meu lado vomita há horas. (…). Não sou uma grande ajuda para o homem que mal conseguiu pregar olho numa viagem de 4 horas.
Estive em Angra, a segunda maior cidade das Ilhas e Património Mundial. É bonita, mas de uma forma turística, como tal, não vou escrever mais sobre a cidade.
Hoje estou nos Biscoitos, a norte da Ilha, onde no Passado o vinho era um grande negócio. No Museu do Vinho, identifico-me como escritor com uma bolsa e a guia turística leva-me numa tour especial pelas vinhas e adegas. Ouvi imenso sobre o papel dos marinheiros da Índia, Macau, Timor e Brasil que paravam nas Ilhas na rota para Lisboa, e como vendiam e especiarias e mobiliário na Ilha, já que as autoridades as confiscavam no continente.
Em Angra, há uma confeitaria famosa " O Largo ", que vende um pequeno bolo denominado de Amélia, a última rainha Portuguesa. Eu descobri no Museu do Vinho que o bolo era originalmente chamado de "Bolo Indiano" porque era feito com especiarias trazidas de Goa. Fora um golpe publicitário, aquando a visita do Rei á Ilha no início do século XIX.
A vinha produz o famoso vinho verdelho aqui. Enquanto caminhamos ao longo das curraletas, fico surpreendido ao ver as videiras deitada sobre as pedras de basalto, como a abóbora cobriria um jardim em Toronto. Não existem estacas aqui, nenhum suporte para suster a vinha longe do chão. Na verdade, não há solo por aqui também. As raízes das videiras simplesmente desaparecem nas fendas da rocha basáltica e são irrigadas por canais de águas pluviais que carregam os minerais das rochas de lava. O basalto aquece bem ao sol e irradia o calor durante a noite, e é esse calor que permite que as uvas se desenvolvam bem a norte e produzam o inebriante vinho verdelho. Maria, a guia, parece ter simpatizado comigo e deu-me um pequeno fruto para provar. Sabe a goiaba, embora seja do tamanho de uma cereja. Ela parece satisfeita com o meu parecer e diz-me que é uma fruta do Brasil, um “primo” da goiaba. Antes de me ir embora, ela ira esvaziar uma cesta inteira deles para o meu saco. Mas por enquanto, ela leva-me numa excursão pelo equipamento usado para fazer vinho. Eu vejo uma pia de lavar a roupa esculpida num único pedaço de basalto. É usado para lavar a roupa durante o ano, mas quando há uvas maduras, a banheira mesmo é usado para esmagar as uvas. A visão da “banheira”, a historia sobre o Bolo Indiano põe-me feliz porque já sei que eles vão aperceber-se do tema que eu estou a trabalhar actualmente.
Mas há mais, no interior do edifício Maria mostra cordas feitas de fios da cauda do gado e dos nervos das baleias, os bloqueios feitos de madeira com as chaves também esculpido em madeira. A ingenuidade dos habitantes da ilha, forçados a se contentarem com o que estava disponível, impressiona-me. Deixo por fim a Adega bastante contente, já que os meus anfitriões insistiam para que eu experimentasse todos os vinhos e aguardentes feitos no local (e serviam-me em porções generosas). Eles parecem satisfeitos por terem um escritor entre eles, pois faziam imensas perguntas sobre o meu trabalho, enquanto me aliciavam com figos e com essas goiaba pequenas (cujo nome me esqueci na bruma do álcool). Ate ao momento de partir, ficamos como grandes amigos. A caminho para apanhar o autocarro, paro e apercebo-me que é quase meio-dia!”
In http: //blogs.bu.edu/world/2010-global-fellows/anand-mahadevan-the-azores/
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