terça-feira, 15 de dezembro de 2009

“Memória duma tragédia” – 1962

(…)
A água subiu, galgou,
Nada a podia aguentar
Terrenos e hortas levou
Para as profundezas do mar
(…)
Essa tromba que caiu
Lá do céu se escondia
Do Raminho até Agualva
Apenas água se via

As ribeiras não levavam
A água em louca corrida
Para os caminhos transbordavam
Com a mais larga medida

(…)

Era terra um vasto mar
Com a água enfurecida
Só se podendo andar
Com risco da própria vida

Na casa além da ribeira
Casa pobre, mas honrada
Mora a família Ladeira
Séria, honesta e educada

Morava marido e consorte
Com filhos que o céu lhes deu
Foi lá que o anjo da morte
As negras asas bateu

Vieram à ponte fatal
Ver de perto a ribeira,
Cruel chamada do mal
Para viagem derradeira

(…)

In João Vital – Memória duma Tragédia -( em 8 de Dezembro de 1962) edição de 1963- União Gráfica Angrense – Terceira -Açores

Hoje, dia 15 de Dezembro de 2009, a freguesia de Agualva, entre outras da Ilha Terceira, volta a conhecer a fúria das águas.

1 comentário:

  1. Quando eu era pequena,
    Na casa dos meus pais,
    Lembro que li essa cena
    Em quadras das águas fatais.

    João Vital, o cantador,
    Urdiu a memória inteira,
    Com rima de muita dor
    Do sucedido na ribeira.

    Queria voltar a ler
    O livro todo a eito
    Dezembro volta a ter
    Tragédia de grande efeito.

    A fúria pluvial
    Ninguém a pode deter
    Pouco antes do Natal
    Maior dor irá trazer.

    Haja solidariedade
    Da gente que já conhece
    A hora da tempestade
    E quando a vida estremece.

    Às famílias chorosas
    Do lado norte da ilha
    Um abraço e venham provas
    Da ajuda de toda a ilha.

    Rosa Silva

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